De qualquer modo, a loucura paulistana tem sua estranha beleza. Uma espécie de “deselegância discreta” que cativa. Um de seus mais geniais filhos escreveu belas letras para essa loucura toda. Trata-se de Itamar Assumpção. Abaixo, um trecho de “Persigo São Paulo”:
São Paulo é uma outra coisa / não é amor exatamente / é identificação absoluta / Sou eu / Eu não me amo, mas me persigo / Eu persigo São PauloOutro trecho. Desta vez, de “Venha Até São Paulo”:
Quem vem pra São Paulo meu bem jamais esquece / Não tem intervalo tudo depressa acontece / Não tem intervalo / Vai e vem e tchan e tchum êta sobe desce / Gente do nordeste, do norte aqui no sudeste / Batalhando nesse mundaréu de mundo que só cresce / Só carece / Venha até São Paulo relaxar ficar relax / Tire um xérox, admire um triplex / Venha até São Paulo viver à beira do estresse / Fuligem catarro assaltos no dia dezMas, será que dá pra imaginar São Paulo como um lugar tranqüilo, ordenado, “civilizado”, humano? É o que Luiz Tatit tenta em “Deu pane em São Paulo”. Neste samba meio quadrado, a cidade não sofre uma “pane”. Na verdade, finalmente começa a funcionar como um lugar feito para pessoas viverem. Na música de Itamar, São Paulo “não tem intervalo”. Na de Tatit, só tem “uma hora de trampo”:
O povo todo delira / E nem acredita que está em São Paulo / Uma hora de trampo / E o resto do dia é só intervalo / E pro trabalho pesado / Cavalo, cavalo / E ainda assim / Com todo o cuidado / Para poupá-loEssa música inspirou um texto escrito em 2004. Uma projeção do que poderia ser São Paulo aos 600 anos. Sem trânsito, a arquitetura misturada à natureza, poucos crimes, jornadas de trabalho de três horas diárias. Um palpite utópico para um lugar cada vez mais insuportável. Para ler, clique abaixo.
Um palpite utópico sobre São Paulo aos 600 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário