O
concessionário de terra não era o dono, o dono era o rei, o Estado.
Determinadas árvores nela existentes, de especial interesse econômico,
permaneciam sob domínio do rei, as chamadas, justamente por isso, madeiras de
lei, que só podiam ser cortadas para uso determinado, mediante autorização
oficial.
Mas a lei também foi responsável
pelo nascimento dos latifúndios. Em 1850, a Lei de Terras determinou: aquisição de terras públicas, só através de compra. A medida excluiu a população pobre e
os negros libertos do acesso a terra.
Na República, generalizaram-se
os latifúndios “grilados”. Falsos títulos de propriedade eram fechados em
gavetas cheias de grilos. Os insetos davam aos documentos a cor amarelada dos
papéis velhos. A aparência justificava a posse por antiguidade.
Em 1964, a ditadura
militar aprovou o Estatuto da Terra, que previa a desapropriação de terras não
produtivas. Em 1965, veio o Código Florestal. Ambos praticamente não saíram do
papel. O meio-ambiente continuou sendo destruído. A extrema concentração
fundiária permanecia preservada.
Retomando o papel
da Lei de Terras, Martins afirma:
Ao
impedir trabalhadores livres e escravos libertos de terem acesso livre à terra,
forçava-os a trabalhar antes na grande lavoura alheia para formar pecúlio e, só
então, ter condições de se tornarem proprietários. A lei criou,
desnecessariamente, um direito absoluto de propriedade ao transferir para os
particulares, além da posse útil e econômica, o domínio sobre a terra, que até
então era do Estado. O debate sobre o Código Florestal é um desdobramento
remoto dessa lei.
Mas é duvidoso o
caráter desnecessário do “direito absoluto de propriedade”. A classe dominante nacional
precisa dele para manter seu poder. Só aceitou compartilhá-lo com seus
sócios estrangeiros. Juntos produziram os novos latifúndios, com seus desertos
de soja, eucalipto, milho,cana etc.
O Código Florestal
dos ruralistas aprovado pelo Congresso e confirmado por Dilma corresponde a essa
lógica. Enquanto isso, a bandeira da Reforma Agrária continua na gaveta. Vai
ficando velha e amarelada sem ajuda dos grilos.
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