O padre José Maurício Nunes
Garcia regeu o famoso Réquiem, de Mozart, no Rio de Janeiro, em 1819. Mais conhecido atualmente por ser tema do filme “Amadeus”, de Milos Forman. O talentoso padre
negro foi responsável pela primeira execução da obra fora da Europa.
Três anos antes disso, Nunes
Garcia escreveu um Réquiem para a Rainha Maria I. E nessa obra citou dois temas
da obra de Mozart. Eram as partes denominadas “Dies iræ” e “Kyrie”. Quem nos dá
essas informações é o musicólogo Paulo Castagna. Ele pergunta:
Será que Nunes Garcia roubou esse
tema de Mozart? Bem, isso teria sido impossível, porque esse tema nem é de
Mozart, é de Haendel.
Segundo o musicólogo,
trata-se do coro “And with His stripes we are healed” do oratório “Messias”, de
Haendel. A obra é de 1741 e Mozart fez um arranjo novo para ela em 1789, a
pedido do Barão Gottfried van Swieten.
Mas nesse mesmo Réquiem
Mozart também usou temas de outros compositores, como Pasquale Anfossi e Michael
Haydn. Castagna explica:
A citação de obras, naquela época,
era vista como homenagem, e não como plágio, conceito que surgiu somente no
século XX. José Maurício homenageou Mozart, Mozart homenageou Haendel e este
homenageou seus antecessores como se observa retrocedendo-se na história da
música.
O que estes autores queriam fazer,
ao citar seus predecessores, era inserir-se em uma rede de compositores que
possuíam ideias em comum, para serem auditivamente reconhecido como membros
dessa mesma rede. Hoje fazemos algo parecido compartilhando imagens ou
informações de amigos e de instituições que admiramos na internet. Nos séculos
XVIII e XIX isso era feito citando-se temas ou trechos da música de outros
compositores da rede.
As informações são da
série de programas “Alma Latina: Música das Américas sob domínio europeu”, de
Paulo Castagna. Ela é transmitida pela Rádio Cultura FM de São Paulo. Também disponível
na página http://paulocastagna.com/alma-latina.
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