Em um trecho, Mauss
cita notas do etnógrafo Robert Hertz sobre o “hau” (o “espírito da coisa dada”).
Quem explica é um habitante local:
Suponha
que o senhor possui um artigo determinado (taonga), e que me dê esse artigo: o
senhor o dá sem um preço fixo. Não fazemos negócio com isso. Ora, eu dou esse
artigo a uma terceira pessoa que, depois de algum tempo, decide dar alguma
coisa em pagamento (utu), presenteando-me com alguma coisa (taonga). Ora, esse
taonga que ele me dá é o espírito (hau) de taonga que recebi do senhor e que
dei a ele. Os taonga que recebi por esses taonga (vindos do senhor) tenho que
lhe devolver. Não seria justo (tika) de minha parte guardar esses taonga para
mim, quer sejam desejáveis (rawe) ou desagradáveis (kino). Devo dá-los ao
senhor, pois são um hau de taonga que o senhor me havia dado. Se eu conservasse
esse segundo taonga para mim, isso poderia trazer-me um mal sério, até mesmo a
morte. Tal é o hau, o hau da propriedade pessoal, o hau dos taonga, o hau da
floresta. Kati ena (basta sobre esse assunto).
Entendeu? Difícil,
né? Pois, experimente explicar como funciona, e principalmente para quê serve, o nosso sistema de dívidas. Kati ena!
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