“Com cartilha, igrejas nos EUA ensinam negros a
‘sobreviver a abordagens policiais’”, é o título de matéria de João Fellet,
publicada pela BBC Brasil em 14/08.
Não há qualquer ironia no título. Afinal, para um negro ser abordado por um
policial é meio caminho para ser agredido ou morto por ele.
Segundo a reportagem, cartilhas distribuídas por igrejas recomendam aos negros
que não apenas mantenham-se inocentes e retos em suas vidas, mas que pareçam
sê-lo.
Diante do insulto ou da agressão de um policial, recomenda-se manter a calma, ser
submisso, cooperativo e reclamar depois.
Quando se é preto e pobre, orientações como essas perdem seu caráter absurdo.
Mas é duvidoso que elas funcionassem em terras brasileiras. A recente chacina
de Osasco, na Grande São Paulo, é mais uma prova disso.
Consta que as dezenove vítimas, todas pretas ou não suficientemente brancas,
foram indagadas se tinham “passagem pela polícia”.
É muito provável que qualquer resposta levaria à covarde execução. Sendo
fichados, mereceriam a morte. Não sendo, seriam mortos por mentirem.
As autoridades, novamente, recomendarão rigor na apuração ou leis mais duras. Providências
a serem ignoradas, já que seus executores são exatamente os que têm interesse
em não cumpri-las.
A não ser que voltássemos a Nina Rodrigues, que, em 1894, publicou o livro “As
raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil”. A obra propunha dois
códigos penais, um para brancos, outro para negros.
Assim, colocaríamos os esquadrões da morte dentro da lei e livraríamos suas
vítimas da triste ilusão de que são protegidas por ela. A inocência passaria a ser
oficialmente uma marca de nascença.
Leia também: Glossário de uma polícia que extermina
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