Doses maiores

5 de agosto de 2015

Indígenas, sem terra ou sepultura

“Não temos terra nem para enterrar nossos familiares mortos pelos fazendeiros”. Estas palavras são do cacique da Aldeia Potrero Guassu, no Mato Grosso do Sul.

Foram dirigidas a uma comissão formada por parlamentares, Ministério Público Federal, Polícia Federal, Funai e outras entidades em reunião realizada em junho passado com representantes de mais de 20 aldeias indígenas daquele estado.

Esta, porém, é só uma parte da realidade que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) mostra em seu relatório “Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil”, lançado em julho.

Entre as muitas informações assustadoras do levantamento, a constatação de que a cada 100 indígenas que morrem no Brasil 40 são crianças. Para Dom Erwin Kräutler, presidente do Cimi, o número confirma “que está em curso uma política indigenista genocida”.

Mas não é de agora. Em seu livro "Brasil: Uma Biografia", Lilia Schwarcz e Heloisa Starling lembram as constantes matanças que marcam os povos indígenas entre nós. Ao mesmo tempo, recuperam a romantização por que passou a figura do índio em nossa história a partir do século 19.

O fenômeno era parte do processo de criação de um “panteão de heróis nacionais” necessário ao país recém liberto do colonialismo português. “Por oposição aos africanos, que lembravam a vergonhosa instituição escravocrata, o indígena permitia selecionar uma origem mítica e estetizada”, dizem as autoras.

Um dos pioneiros dessa romantização foi Gonçalves Dias, cujo poema mais conhecido é “I-Juca-Pirama”. Mais profético do que poético, o título da obra quer dizer em tupi “o que há de ser morto”. O subtítulo poderia ser “e nem mesmo terá direito a uma sepultura digna”.

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Suicídio indígena, branco e ocidental


2 comentários:

  1. Já vi muitas frases chocantes sobre o extermínio indígena. Algumas podem até ser mais chocantes, mas esta que cita neste seu blog é a mais profunda. De um lado a matança dos índios pelos homens brancos; e do outro a usurpação das suas terras. De um lado a profusão (dos mortos), e de outro a ausência (de terra). Quem vence? Só o capitalismo. Pode não ter "novidade", mas a síntese formulada pelo cacique da Aldeia Potrero Guassu, dizendo que sequer os índios tem mais onde enterrar seus mortos, é de uma tristeza profunda.

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    1. É, Marião. Não tá dando nem pra enterrar o coração na curva do rio.

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