Pixote cambaleia. Cai e torna a
levantar, dá mais algumas passadas como se não soubesse em que direção estava
se dirigindo, torna a cair. Dito está com as pedras nas mãos, sem saber em quem
jogá-las.
— Atiraram em Pixote! — diz Fumaça,
alarmado.
Dito sabe que não pode perder a calma.
Sente a cabeça esquentar.
— Vamos embora, antes que nos peguem!
Os três saem correndo, agachando-se o
mais que podem. Outros tiros são disparados, mas ninguém está ferido, Dito
chega perto de Pixote. Ele tem os olhos abertos, filetes de sangue a escorrerem
do pescoço. A mão amarela se abriu, com as flores murchas que ia levando para
Estrelado.
O trecho acima é do livro “Infância dos mortos”, de José
Louzeiro, publicado pela primeira vez em 1977. Os personagens são crianças de
rua. O mais famoso deles é Pixote, cujo nome batizou um filme de grande sucesso
de Hector Babenco, lançado em 1980.
Muitas décadas depois, pouca coisa mudou. Ao contrário, o
relatório “Violência Letal Contra as Crianças e Adolescentes do Brasil”, publicado
pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais em 2013, mostra que só naquele
ano, foram 10.520 vítimas dessa faixa etária. Quase 29 por dia.
De 1980 a 2013, foram assassinados 207.438 crianças e
adolescentes até 19 anos de idade. Entre estes, estava Fernando da Silva Ramos,
o ator que interpretou o “Pixote”. Foi morto pela polícia em 1987, meses antes
de completar 20 anos. Ainda vivia na favela em que nasceu, na cidade de
Diadema, grande São Paulo.
Leia também: A maioridade penal e o código de Hamurabi
É,tristes lembranças.
ResponderExcluirO Silêncio que grita.
ResponderExcluirSim, triste.
ExcluirAbraço