...o fato que na Idade Média a Igreja
Católica formasse sua hierarquia com os melhores cérebros do povo, sem levar em
conta estamento, nascimento ou patrimônio, foi um dos principais meios de
consolidação do domínio eclesiástico.
O trecho acima é do terceiro volume de “O Capital”, de
Karl Marx. Foi citado pelo colunista Mario Sérgio Conti, na Folha em
03/06/2017. A citação leva a outra:
O domínio de uma classe é tanto mais
sólido e perigoso quanto maior é a capacidade de essa classe dominante
assimilar os homens mais importantes das classes dominadas.
Agora, é Conti que deduz das duas passagens acima o
seguinte:
Passe-se esse pensamento para a
América Latina do século 21. Chega-se à conclusão –contraintuitiva– que Chávez,
Morales e Lula, catapultados do substrato do povo para o topo do Estado,
atestam a vitalidade do capitalismo. Mostram sua capacidade em cooptar os
melhores entre os dominados, para por seu intermédio manter a dominação.
Claro que muita gente da esquerda deve torcer o nariz
para conclusão semelhante. Mas como o próprio colunista afirma, o Livro 3 “não
trata de política”. Nele, Marx está preocupado com “a economia como um todo”.
Realmente, não é citando “O Capital” que se combate o
reformismo. À liderança de homens como Chávez, Morales e Lula não se responde com
discursos e teorias, mas com luta política tendo como base muita clareza quanto
à capacidade que o inimigo tem de utilizar os “melhores filhos do povo”.
De resto, é preciso lembrar sempre a máxima anarquista que
diz “quanto melhor se mostrar um governo, maior o perigo que ele pode representar”.
Leia também: Sobre o golpe, traições e pulgas
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