No início de 1917, com a Rússia mergulhada na Primeira Guerra, a polícia secreta czarista considerava as mulheres pobres a maior ameaça ao regime. Exaustas, ocupando intermináveis filas de pão racionado e sofrendo ao ver seus filhos esfomeados, elas formavam “uma massa inflamável que só precisaria de uma faísca para explodir”. Além disso, houve um forte aumento do número de mulheres nas fábricas, em substituição aos homens convocados para a guerra.
Essa situação passou quase despercebida pelas organizações socialistas. Mesmo os bolcheviques investiam pouco na organização da militância feminina. Uma das poucas exceções foi um panfleto escrito pelo partido para o Dia Internacional da Mulher, em 1915. A publicação chamava as trabalhadoras a parar “de sofrer em silêncio e agir para proteger seus homens”, adotando o lema “Abaixo a Guerra!”
Em vários momentos, os bolcheviques até enfatizaram que a luta por aumento salarial e redução da jornada só seria possível com a plena participação das trabalhadoras. Mas viam na luta pelas questões especificas das mulheres uma ameaça à unidade operária.
Em fevereiro de 1917, a direção bolchevique orientou as trabalhadoras a priorizar a organização do 1º de Maio em prejuízo do Dia Internacional da Mulher. Pois foi exatamente este o dia escolhido por operárias têxteis para iniciar uma grande greve, que detonaria a primeira fase da Revolução Russa.
Nem assim, a luta das mulheres conquistou o respeito que merecia. Aquela paralisação decisiva ainda é considerada por muitos apenas uma explosão social espontânea.
O relato acima está no livro “Parteiras da Revolução”, de Jane McDermid. Obra que voltaremos a comentar, em breve.
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