Doses maiores

24 de maio de 2024

O que guerras e calamidades revelam sobre paz e normalidade

Uma das metáforas favoritas da grande mídia, governos e especialistas é a que compara a calamidade que atingiu o Rio Grande do Sul a uma guerra.
 
A imagem simbólica vem a calhar para lembrar a velha máxima de que uma das primeiras vítimas em uma guerra é a verdade. O que não faltam são mentiras e falsidades sobre a calamidade em terras gaúchas. As mais descaradas são obra das forças extremistas da direita. Mas também há distorções mais sutis, cometidas pela grande mídia em sua pesada disputa hegemônica.
 
Mas sejam guerras ou calamidades, é costume dizer que tais situações revelam o pior do ser humano. No caso das cidades gaúchas são saques organizados por milícias, batalhas entre quadrilhas, violência policial sob pretexto de defesa da ordem, distribuição de comida estragada, doações de coisas inúteis disfarçadas de caridade e outros exemplos desanimadores.
 
Tudo isso revelaria a verdadeira natureza humana: um oceano de egoísmo e falsidade cercando pequenas ilhas de solidariedade e boas intenções.
 
As noções mais básicas da sociologia, porém, recomendam que troquemos essa concepção genérica de “ser humano” pelo conceito menos vago de relações sociais. São nestas que imperam os valores do convívio social, não nos indivíduos que as compõem.
 
Eventos extremos não revelam a maldade e o egoísmo inerentes à espécie humana. Apenas acentuam as leis, regras, costumes, valores que regem certas sociedades em tempos de pretensa normalidade.

No caso de sociedades profundamente injustas como a nossa, nem mesmo os supostos momentos de paz e normalidade conseguem se distinguir de situações de guerras e catástrofes. É quando nenhuma metáfora dá conta da realidade.

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