“Obscuro fichário dos artistas mundanos” é o nome de um projeto criado por
Clarice Hoffmann. Trata-se de pesquisa sobre artistas investigados e fichados
em Pernambuco entre 1934 e 1958 pelos aparelhos de repressão da “ordem
política”.
O Globo trouxe matéria sobre o projeto em 03/06. Há aspectos que seriam
pitorescos não representassem mais um exemplo da triste história da repressão
política do País. Artistas eram suspeitos apenas por assumir atitudes e posturas fora
das regras rígidas de um conservadorismo tão tacanho quanto brutal.
Um dos casos é o da atriz e cantora Anita Palmero, detida por causa de suas
gargalhadas escandalosas diante de “autoridades” no saguão de um hotel. Outro exemplo
é Sixto Argentino Gallo, anão anunciado como o “menor homem do mundo” pelo
Circo Hispano-americano.
Norberto Americo Aymonino tornou-se alvo de investigações por se apresentar “em toilette
feminina”. Em determinado trecho do inquérito, a estupidez dos investigadores
perguntava: “No caso de mobilização, qual seria a situação de Aymonino, o
transformista?”
A matéria informa que o período Vargas foi marcado pelo pensamento eugenista,
que considerava possível identificar um criminoso por “conta de sua
constituição corpórea”. Mas é importante observar que o período coberto pela
pesquisa inclui tanto governos eleitos como ditaduras. Na verdade, trata-se de
uma política assumida pelo Estado, que continuou em vigência até a ditadura
militar e a ultrapassou.
Ou é falso dizer que a repressão policial, seja política ou não, atinge
em especial pessoas tornadas suspeitas por traços de sua “constituição
corpórea”, principalmente os que têm a pele escura e ainda ousam fazer arte de resistência nas ruas e em suas comunidades?
Leia também: A antiga conspiração
das facas
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