Dois textos. O primeiro é uma entrevista com o historiador marxista indiano Vijay Prashad, publicada recentemente na revista Jacobina, com o titulo “Não oferecer uma utopia é uma limitação imediata da esquerda”.
Referindo-se aos neoliberais, Prashad diz que a utopia deles funciona porque ela não é sobre a realização. É sobre competição. Eles dizem, por exemplo, que seu filho pode se tornar um grande sucesso e ser melhor que os filhos dos outros. Mas se ele não conseguir, o problema é dele. A utopia neoliberal está estruturada de uma forma tão inteligente que ela não falha. Só os indivíduos falham.
Já em nossa utopia, diz Prashad, o fracasso não é possível. Em uma sociedade socialista, não há fracassados. O problema é que tornou-se fortemente dominante a ideia de que nossa utopia já fracassou com o fim da União Soviética e as dificuldades de outras experiências ditas socialistas.
O outro texto é “Identitarismo enfraquece capacidade política da esquerda”, artigo de Leonardo Avritzer, publicado na Folha. Nele, o autor afirma que um dos maiores problemas da esquerda atual é o identitarismo. Com sua redução do fenômeno colonial ao “homem branco”, diz ele, trata-se de “uma teoria equivocada do presente na qual só o passado tem peso e nenhuma proposta de futuro comum é apresentada”.
As duas elaborações falam sobre a dificuldade da esquerda em se livrar do peso do passado. Seja aquele do socialismo real, seja o do colonialismo. São debates centrais, mas longe de chegarem a sínteses que armem os explorados e oprimidos.
Enquanto isso, o neoliberalismo vai acanhando nossos horizontes e exterminando nosso futuro.
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