Doses maiores

24 de outubro de 2014

O divórcio entre junho e outubro

As atuais eleições ocorrem após um acontecimento histórico fundamental. As grandes manifestações de junho de 2013 foram as primeiras desde o Fora Collor, mais de 20 anos atrás.

Mas se essas revoltas aconteceram sob um governo de esquerda, ninguém tomou as ruas para protestar contra a adoção de medidas esquerdistas clássicas. Coisas como Bolsa-Família, Prouni, aumento do salário mínimo e aeroportos superlotados nada têm de socialistas.

Os manifestantes, por sua vez, não apresentaram quaisquer exigências radicais. É o caso da redução da tarifa de ônibus, mais verbas para saúde e educação, combate à corrupção, reforma política e fim da brutalidade policial.

Aparentemente, Junho foi resultado de uma explosão de mal-estar. Um incômodo radical sobre o qual não identificamos mais que alguns sintomas. O maior deles, uma rejeição generalizada à política institucional. Em especial, contra os partidos de todas as cores.

Vieram as eleições e elas só comprovaram o que as multidões tentaram expressar nas ruas. A política oficial já não teme mostrar sua enorme distância da vontade popular. O divórcio entre a farsa do voto bienal e a injustiça social, a repressão e a desigualdade econômica.

A campanha eleitoral simplesmente fez de conta que Junho não existiu. O que interessa é saber qual projeto irá gerenciar uma das sociedades mais violentas e injustas do mundo pelos próximos quatro anos.

Enquanto isso, a seca deixa de castigar apenas o Nordeste e começa a se alastrar pelas regiões mais ricas do País. A crise mundial promete chegar de vez e causar grandes estragos.

O calendário eleitoral termina domingo. Aquele que se iniciou em junho pode estar apenas começando.

Leia também: O PT também é conservador, afirma um petista

Um comentário:

  1. Entendo a propaganda eleitoral como parte da campanha eleitoral. Eu não acompanhei toda, mas vi que o Skaf e agora o Aécio, falando muito do "clamor das ruas" por mudança. Ou seja, a direita tentou se apropriar de junho. Sei que é ridículo e inoperante para estas campanhas tentarem colar nas manifestações, mas fizeram. O que não aconteceu foi o PT, por motivos óbvios, tocar no assunto. Nos partidos de esquerda, vi alguma coisa, mas muito tímida. Triste, né.

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