Trata-se de uma definição eurocêntrica para dizer o mínimo. Incoerente com uma teoria que defende a emancipação da humanidade de um domínio que nasceu do colonialismo europeu, responsável por mergulhar povos inteiros em um mar de “lama e sangue”, nas palavras do próprio Marx.
A questão é que mesmo Lênin jamais se deixou orientar apenas pelas correntes intelectuais da Europa Central. Ao contrário, os bolcheviques basearam muito de sua atuação na militância dos populistas russos, enraizada no trabalho junto aos camponeses da Rússia czarista.
Além disso, Lênin procurou compreender as especificidades da sociedade russa em sua grande obra “O desenvolvimento do capitalismo na Rússia”. Escrito de 1896 a 1899, o estudo é um exemplo de como adequar a teoria revolucionária à realidade concreta de uma sociedade periférica.
Outras lideranças e teóricos marxistas procuraram fazer o mesmo em suas sociedades. É o caso de Gramsci, na Itália, Mariátegui, no Peru e Zavaleta Mercado, na Bolívia. Mas em relação aos efeitos práticos, certamente a abordagem leninista foi a mais bem-sucedida.
Na verdade, a própria Revolução Russa foi considerada uma heresia pelos marxistas ortodoxos dos países europeus industrializados. No ano em que se completam 100 anos de sua morte é importante lembrar que a principal fonte do marxismo de Lênin era o que ele definia como a “análise concreta da situação concreta”.
Leia também: Lênin, o revolucionário que sabia recuar
Pois é, ficamos pensando e refletindo muito sobre o significado do Lênin e seus ensinamentos. E pensamos sempre o que faria Lênin e outros marxistas hoje, inclusive seus fundadores, quer dizer, nem sei se poderíamos chamar de fundadores porque, pelo menos Marx não pensava assim, não queria fundar uma teoria marxista.
ResponderExcluirVoltando a Lênin e a atualidade, uma pergunta desafiadora e de resposta talvez triste: o que faria ele hoje? Penso que não teria condições de existir nos moldes do que representou naquele momento histórico, provavelmente seria mais um teórico marxista, e não isso e um líder revolucionário revolucionário e popular. E ele provavelmente saberia mais do que ninguém isso se vivesse hoje. Sabemos que o sujeito faz histórias, mas não do jeito que ele gostaria, depende das condições históricas, já dizia Marx.
A pergunta mais séria é como naquele país atrasado pôde surgir um líder revolucionário como Lênin? Sim, é a pergunta que mais tentam responder, e que não convence muito ninguém.
Atualmente temos líderes reformistas, ou nem isso, que não fazem conexão, não se preocupam, não tem capacidade teórica, ou nem tem como horizonte ligar o mundo atual com a possibilidade futura. Que conjuntura do cacete vivemos.
Serginho, a comparação que faz com lideres pós Lênin, ainda que com as ressalvas, mesmo assim são muito distantes. Gramsci foi um grande teórico primordialmente, o resto do Lênin ele não tinha. Os outros não conheço, não que seja um grande conhecedor dos revolucionários, mas acho que responde porque eles não podem ser comparados com Lênin.
Ah tá, sempre fico pensando como seria a história se determinado sujeito estivesse vivo. Do Lênin eu queria pelo menos um tempo um pouco maior, só para saber o que iria propor e entender quando a revolução internacional não aconteceu.
Puxa vida, o comentário acabou ficou grande, quase do tamanho da Pílula, mas sei que não se importa e até gosta que os comentários possam ser outras Pílulas, ou mais que isso. Abraço leninista. Brincadeira, tá, odeio e acho que também não gosta de traduzir nossa amizade e abraço ao compartilhamento do que somos em termos de política, no caso de Lênin.
ResponderExcluirSim, gosto muito de interlocução. Compartilho com muitas de suas preocupações. Quanto às comparações, citei apenas alguns que tentaram fazer o que Lênin fez, mas não conseguiram. Outros nem isso fizeram. Abraço
ResponderExcluir