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14 de junho de 2024

Reestruturação produtiva, algoritmos e cibernética

Em “O Capital”, Marx afirma que “as relíquias de instrumentos de trabalho do passado possuem a mesma importância para a investigação das formações econômicas extintas da sociedade que os fósseis para a determinação de espécies extintas de animais”. Ou seja, “os instrumentos de trabalho não apenas fornecem um padrão do grau de desenvolvimento que o trabalho humano atingiu, mas indicam as relações sociais dentro das quais os homens trabalham”, diz ele.

Essa passagem da obra de Marx foi citada por Matteo Pasquinelli, no livro “O Olho do Mestre”, para mostrar que são as relações entre capital e trabalho que explicam a Revolução Industrial e não a inovação tecnológica. É a necessidade de aumentar a exploração do tecelão que inventou o tear mecânico, não os engenheiros de produção.

Antes de a automação assumir o protagonismo, a divisão industrial do trabalho com suas linhas de montagem retilíneas era organizada por procedimentos comparáveis a algoritmos simples. Mas no final do século passado, ocorrem as reestruturações produtivas em resposta aos efeitos das crises capitalistas e à pressão da luta de classes. Estas novas condições passaram a exigir uma nova forma de controle.

É assim que os algoritmos passam a ser orientados pela cibernética de modo a controlar sistemas de alta complexidade que já não se organizavam de acordo com os antigos métodos hierárquicos e centralizados. Começavam a se estabelecer as condições iniciais para o aprendizado de máquina e aquilo que viria a ser chamado de inteligência artificial. Em essência, mais uma inovação tecnológica a serviço da exploração capitalista. E, como tal, mais um estágio no aprofundamento da barbárie social.

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