Doses maiores

18 de junho de 2024

Lênin, o revolucionário que sabia recuar

No período posterior à Revolução de 1905, os bolcheviques avaliaram que haveria um ressurgimento da atividade revolucionária na Rússia. Portanto, consideravam fundamental preparar a insurreição armada das massas operárias.

Os mencheviques, corrente rival dos bolcheviques dentro do partido socialdemocrata russo, achavam o contrário. Para eles, a disposição de luta dos trabalhadores diminuíra drasticamente. Defendiam um mergulho no trabalho legal, eleitoral e por reformas possíveis.

Mesmo assim, Lênin e outras lideranças bolcheviques concentraram-se em questões como proteger, armazenar e distribuir armas, munições, explosivos. Organizar unidades armadas e destacamentos de guerrilha urbana. Executar ações armadas de pequena escala, incluindo “expropriações” na forma de assaltos a bancos.

No entanto, Lênin logo chegaria à conclusão de que os mencheviques estavam certos. A luta armada já não fazia sentido, revelando-se contraproducente e autodestrutiva. Não teve dúvidas em romper drasticamente com o que ele mesmo defendera, chegando a votar junto com os mencheviques em plenárias partidárias. O que não significou aderir às teses reformistas defendidas por eles.

Nádia Krupskaya, esposa de Lênin, descreveria assim essa atitude:

Dizem que um bolchevique deve ser firme e inflexível. Lênin considerava esta atitude falaciosa, pois significaria desistir de todo trabalho prático, ficar à parte das massas em vez de organizá-las no enfrentamento de seus problemas concretos (...). A capacidade de ajustar-se às condições mais adversas e, ao mesmo tempo, não perder de vista os princípios revolucionários é a essência do leninismo.

O relato acima está no livro “Lênin: Responding to Catastrophe, Forging Revolution“, de Paul Le Blanc. Demonstra que uma das maiores qualidades de um revolucionário é saber quando reconhecer seus erros e recuar.

Leia também: Lênin e o militante como tribuno popular

3 comentários:

  1. Poxa, que relato importante, não sabia. Quando comecei a ler essa Pílula me desagradava porque achava que o Lenin tinha entrado nessa de propor mini insurreições. Que visão que ele tinha, fantástico não se alinhar automaticamente ao seu bloco político, contrariando ele e a si mesmo, e pior, ou melhor, em tese podendo reforçar o campo do seu oponente. Eu não costumo ou nunca vi isso na esquerda.

    ResponderExcluir
  2. Olha, Lênin é um fenômeno raríssimo. Uma capacidade teórica enorme junto a uma grande competência para transformar a teoria em política e propor formas de organização para ela. Junte-se a isso a ausência de qualquer vaidade em reconhecer erros e visão clara dos objetivos a serem perseguidos. Acho que isso só se explica pelo funcionamento dialético de sua mente. Não quer dizer que tenha sido infalível. Longe disso. Mas é um exemplo de combinação de características pessoais que dão estatura histórica a um indivíduo.

    ResponderExcluir